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Deixamos Tudo para Segui-lo: A Urgência da Missão e o Custo do Discipulado

  • Pr. José Eduardo
  • há 6 dias
  • 9 min de leitura

Autor: Pastor José Eduardo (Missionário entre os Kalungas)

Data: 23 de novembro de 2025

Local: Igreja Presbiteriana Novo Horizonte (IPNH)


Assista o culto completo em nosso canal do Youtube.



Pregação Completa:


Creio que há vários irmãos que ainda não me conhecem. Estivemos aqui na Igreja Presbiteriana Novo Horizonte por duas ocasiões: de 2012 a 2016, e depois de 2021 a 2023. Sou o pastor José Eduardo, filho desta igreja a partir dos 17 anos de idade.

Aqui cheguei jovem e atuei a princípio com a UPA (adolescentes), depois um certo tempo junto também com a Mocidade. Daqui saí para o campo missionário em 1998 e para cá voltei em 2012. Aprove a Deus eu estar aqui com o pastor Guilherme, como pastor auxiliar, por essas duas vezes.

Depois de 2016, fomos para o trabalho entre os Kalungas, entre os Quilombolas, ali no nordeste goiano e no sudeste tocantinense, onde estamos hoje servindo ao Senhor. Antes, no Amazonas, tivemos 14 anos de ministério: cinco anos com indígenas e nove anos com plantação de igrejas entre os ribeirinhos. Esse é, rapidamente, um pouco do histórico do nosso trabalho e da nossa vida missionária. Eu, minha esposa Saly, e nossas quatro filhas: Emily, Eloise, Elisa e Eduarda.

Sou imensamente grato a esta igreja. Ela tem um significado muito importante para a minha vida. Aqui fui abençoado, instruído, ensinado, admoestado e despertado para o trabalho missionário. Aqui tentei cooperar na edificação desta igreja como pastor auxiliar e contribuir com esse papel tão sublime que é o pastorado.

Estamos no campo missionário agora com os Kalungas e ali temos o desafio de alcançar, como disse o nosso irmão Sérgio, um povo transcultural. Um povo que tem sua cultura, suas características e sua crença própria. Estamos com esse desafio de alcançá-los com a ministração da Palavra do Senhor.


Quatro Facetas da Responsabilidade Missionária


Irmãos, sobre a pregação ou o testemunho que cabe a nós realizarmos em favor do Evangelho, quero apontar inicialmente quatro facetas, quatro particularidades em relação à nossa responsabilidade.


1. A Urgência


A primeira faceta, muito sabida dos irmãos, é a questão da urgência. É necessário que pensemos nisto: há uma urgência na pregação do Evangelho. O tempo é hoje, o tempo é o agora. É claro que as pessoas que estão vivas hoje poderão não estar mais vivas amanhã.

Lembro-me que estivemos lá na semana passada com os Kalungas do Mimoso. Quando moramos em Arraias, tínhamos ali no chamado núcleo do Mimoso um grupo de 10 a 12 crianças. Quando voltamos agora, depois de um ano sem irmos lá, desse grupo restaram apenas duas. Todas as outras se dispersaram; comumente elas vão para a cidade estudar, entendem que é a vontade delas, acham que isso é bom e deixam a comunidade.

Isso trouxe a mim e à Saly uma reflexão impactante sobre a importância de entendermos a urgência. As crianças são tão predispostas e acessíveis — diferentemente dos adultos, que é tão difícil fazer com que ouçam ou participem de uma reunião. Precisamos aproveitar as oportunidades. Esta é uma faixa etária que precisa urgentemente ouvir o Evangelho. Numa comunidade com aquele contexto problemático, onde a sexualidade é aflorada e há tantos vícios, as crianças estão sendo assediadas. Precisamos pregar Jesus. Elas ouvem, a Palavra fica gravada e aquilo que Deus tem a fazer na vida delas certamente acontecerá.


2. A Oportunidade


A segunda particularidade é a oportunidade. Entendamos que não sou só eu que vou para um campo missionário, não é só o pastor ou o seminarista que tem essa responsabilidade. Todos nós temos. E as oportunidades devem ser aproveitadas.

Na rotina, no dia a dia, aparecerão situações onde os irmãos terão a oportunidade de compartilhar o Evangelho: no trabalho, na escola, na rua. E, além de aproveitar, precisamos buscar oportunidades. Esse é um papel que talvez tenhamos que fazer como missionários: ir para a linha de frente. Quando falo de oportunidade, estou falando de prontidão para comunicar o Evangelho.


3. A Imparcialidade


A terceira faceta é a imparcialidade. Não podemos fazer acepção de pessoas; isso diz respeito à nossa ética cristã. Não há judeu, nem gentio, nem bárbaro. Todos são dignos e precisam ouvir do Evangelho.

Lá no Mimoso, fui constrangido e pensei na minha imparcialidade. Os irmãos sabem que, além da estrada principal, há muitas "pendidas" (ramais). Uma pendida leva a outra. Eu tenho conversado com a Saly sobre frustração, e ela tem me ajudado. Me dá frustração saber que não andei em todas as pendidas daquela comunidade. Parei num local onde havia moradores da região do "Forte" (onde tomamos aquela água boa da serra). Quando souberam que eu era o pastor Eduardo, disseram: "Ah, você é o pastor Eduardo? Ouvimos tanto de você, mas você nunca foi lá conosco."

Eu fui "afundando" no banco, sentindo aquele abatimento. Pensei: "Senhor, imparcialidade." Não podemos fazer acepção de pessoas.


4. A Constância


A quarta particularidade é a constância na missão. Devemos ser incessantes. Isso tem a ver com o nosso compromisso. Mesmo que esperemos algum resultado em determinado tempo e ele não aconteça, cabe a nós sermos constantes.

A Parábola do Semeador nos ensina a lei da semeadura: ela tem que ser abundante. Independente se a semente cairá em solo rochoso, espinhoso ou pisado, o Evangelho tem que ser pregado. A semente que cair na boa terra, aquela que alcançar o coração predisposto pelo Espírito Santo, haverá de frutificar. Mesmo que num universo grande apenas uma ou duas pessoas se convertam, cumprimos o nosso papel.


Reflexões de uma Caminhada


Quero compartilhar uma passagem bíblica que há algum tempo tem estado no meu coração (Mateus 19:27). Mas antes, peço licença para abrir meu coração. Sou missionário, pastor, mas sou como qualquer um de vocês. Escrevi uma pequena reflexão que diz assim:

"Ao chegar a quase três décadas de ministério, aqui estou com o coração alegre, mas tendo diante de mim uma realidade inesperada. Digo isto porque eu pensava que o transcorrer dos anos me traria maturidade suficiente para lidar com todas as questões da vida. Quando recordo a minha juventude, vejo-me com desprendimento e coragem, de modo que, quanto à missão, nada tinha a temer. Mas no decorrer do ministério, desgastes físicos, espirituais e principalmente emocionais foram acontecendo. Todos eles certamente decorreram do chamado, ou ainda, do discipulado cristão. Enfim, decorreu do desprendimento para estar onde Cristo até aqui quis me levar. Portanto, já agora, apesar de ser alguém experimentado, contudo me vejo tão frágil. E se esta é a realidade a ser vivida por mim daqui para frente, então eu, como qualquer pessoa que está sujeita às agruras da vida, preciso nunca me esquecer qual a minha condição em Cristo Jesus. E uma vez convicto de que estou Nele, então posso estar certo de que em tudo sou mais que vencedor."

Algumas Conclusões sobre a Carreira Missionária


Antes de ler o texto, trago algumas conclusões que tirei desses tempos de trabalho:

  1. Apesar de nós: Todo trabalho realizado não aconteceu por causa de nós, mas apesar de nós. No que diz respeito aos resultados, não foi graças a mim.

  2. Privilégio: O Senhor não precisa de nós, mas nos concede o privilégio de servi-lo. Isso traz sentido à nossa existência.

  3. Vivência: É necessário conhecer as doutrinas cristãs, mas alcançamos um nível mais profundo quando elas são vivenciadas. Tenho visto a graça, o amor e a providência de Deus na prática. Esse Deus é fiel.

  4. Pessoas importam: No curso da vida, o que importa são pessoas. Independente das dificuldades de relacionamento, lembrem-se: Jesus veio para salvar pessoas.

  5. Tudo o que temos: O Senhor não nos pede mais do que temos, mas Ele pede tudo o que temos.


O Custo de Seguir a Jesus (Mateus 19:27)


Leiamos a Palavra do Senhor em Mateus 19:27. O contexto é Jesus conversando com os discípulos logo após o encontro com o Jovem Rico.

"Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que receberemos?"

Essa é uma palavra difícil. Será que nós, da mesma forma que Pedro, podemos declará-la?


O Hábito de Contar as Bênçãos


Irmãos, tenho um hábito. Pego um papel A4, dobro uma vez, depois dobro mais uma vez (fica o tamanho A6) e faço anotações das "dádivas de Deus". Comecei em 2005 e tenho pena de não ter começado antes. Anoto bênçãos relacionadas a ofertas, presentes, mantenedores, livramentos (já dei muito trabalho para os anjos!), oportunidades de testemunho e formação acadêmica.

Faço isso continuamente para visualizar a dimensão das bênçãos de Deus. Como diz o hino: "Conta as bênçãos, dize quantas são". Isso cultiva gratidão e produz fé. Olhando minhas anotações, vejo que 2020, o ano da pandemia, foi o ano em que Deus mais me abençoou.


O Contexto: O Jovem Rico vs. Pedro


Quando Pedro reafirma sua condição, aprendemos que o Evangelho não é popular. Ele tem um custo alto. Exige que deixemos tudo. Na perspectiva bíblica, o ganho espiritual se dá mediante o "deixar tudo". É o oposto do mundo.

Os discípulos compõem um grupo seleto. Em João 6, muitos deixaram Jesus porque o discurso era duro, mas os doze ficaram. O discipulado é uma decisão que necessita ser reafirmada.

O contexto de Mateus 19 mostra um jovem que foi à pessoa certa (Jesus), com a motivação certa (queria a vida eterna) e fez a pergunta certa ("O que farei de bom?"). Jesus lista os mandamentos, e o jovem diz que já os observa, mas sente que falta algo. Jesus então diz: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me."

O jovem retirou-se triste, pois era dono de muitas propriedades. Ele ouviu o "segue-me", mas não acatou. Pedro, lembrando-se do seu próprio chamado, diz: "Eis que nós deixamos tudo."


Três Pontos sobre "Deixar Tudo"


1. A Lógica: Encontramos o "Tudo" Se deixamos tudo, é porque encontramos Aquele que é o Tudo. Aquilo que valorizamos é onde colocamos nosso coração, mente e força. Jesus conta as parábolas do Tesouro Escondido e da Pérola de Grande Valor (Mateus 13). Quem encontra o Reino vende tudo o que tem para possuí-lo. Tiago Menor, um dos apóstolos, é descrito como alguém que acatou o "segue-me". Ele encontrou em Jesus a oportunidade rara (só em Jesus) e cara (custou o sangue de Cristo) de encontrar a paz.

2. A Consequência: Pouca coisa vai importar Se deixamos tudo, pouca coisa nesta vida vai nos importar. Isso não significa dar pouco valor à vida, mas sim dar prioridade ao que deve nortear nossa existência: o Senhor Jesus. Lembrem-se de Marta e Maria (Lucas 10:42). Jesus disse: "Marta, andas inquieta com muitas coisas. Mas uma só é necessária." Marta simboliza as distrações e vaidades. Maria escolheu a boa parte. O Salmista diz: "Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor" (Salmo 27:4). Em João 4, Jesus diz aos discípulos: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou." Existe uma necessidade espiritual maior que a física. Buscai primeiro o Reino de Deus.

3. O Resultado: Haverá recompensa Pedro pergunta: "O que será de nós?". Deixar tudo é o requisito que nos credencia à recompensa divina. Jesus responde no versículo 29 e em Marcos 10:29-30: "Ninguém há que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por amor de mim e do evangelho, que não receba já no presente o cêntuplo... e no mundo por vir a vida eterna." É triste olhar para o jovem rico. Ele chegou tão perto da Salvação, esteve com o Salvador, mas virou as costas. O princípio é: ganhamos a salvação perdendo a vida (Mateus 16:25).


Conclusão


Quero encerrar trazendo duas conclusões finais.

Primeira: O discipulado cristão cobra um estilo de vida radical. A palavra radical vem de raiz. A raiz dá sustentação e busca alimento para a árvore. Nossa sustentação e nosso alimento vêm de Cristo. A vida cristã não pode ser "mais ou menos", uma parte para o mundo e outra para Deus. O Senhor pede exclusividade. Ele é o Norte.

Segunda: Cristo tem na mais alta consideração aqueles que deixam tudo. Deus está olhando o nosso sacrifício. O jovem rico tinha muitas propriedades; Pedro tinha um barco e redes. Pode parecer pouco, mas para Pedro era tudo. Proporcionalmente, ele deixou a mesma quantidade que o jovem rico: tudo o que tinha. Lembrem-se da viúva pobre no templo. Ela deu duas moedas, mas Jesus disse que ela deu mais do que todos, porque deu o seu sustento. Deus olha o quanto nos sacrificamos. O holocausto no Antigo Testamento era uma oferta totalmente queimada, totalmente dedicada. Assim deve ser nossa vida.

Nós julgamos ser donos do nosso tempo, habilidades, escolhas, interesses, saúde e bens. Mas quanto disso temos consagrado ao Senhor? O que será aceitável a Deus é se separarmos o que temos com alegria.

Vamos orar.


Oração Final


"Deus bendito Pai, glorificado seja o Teu Santo Nome, Senhor. Eu quero, neste momento, rogar a Tua bênção sobre nossas vidas. Nós que um dia acatamos o 'segue-me' de Cristo, nós que calculamos o alto preço de seguir a Cristo e fizemos a nossa decisão de andar com o Senhor Jesus.

Ó Senhor, precisamos entender que o Evangelho genuíno implica numa condição onde nós, de fato, tenhamos entregue nossa vida totalmente ao Senhor. Não somos mais donos de nós mesmos. Aquilo que temos e somos pertence ao Senhor, e nós administramos para o Teu louvor e glória.

Que haja da parte de cada um de nós essa compreensão e a disposição de realizar as mudanças necessárias. Opere em nós, Senhor, porque certamente temos sido imperfeitos nessa caminhada. Que o nosso desejo de viver de maneira semelhante ao Senhor Jesus seja real. Fale conosco, opere em nossas vidas com graça e misericórdia. Assim eu oro e agradeço em nome do Teu Filho Jesus Cristo. Amém e amém."

 
 
Igreja Presbiteriana
Novo Horizonte

Av. Domiciano Peixoto, Qd. 16, Lt 16 

Jardim Vila Boa, Goiânia - Goiás

74.363-770

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